Capítulo 11 da Carta aos Cristãos de Hoje...
Quando percebemos que
vivemos sem haver pedido viver, simplesmente vivemos; não expressamos alegria,
senão depois de muito tempo vivendo, e nem nos queixamos no imediato. É como se
tal consciência nem existe.
Passa o tempo e vamos
tomando consciência da vida que vivemos, e se ao ouvir a Palavra de salvação
eterna nos arrependemos crendo no Senhor Jesus, a nossa primeira reação à vida
humana que tenhamos vivido até então, é a do reconhecimento de um viver que
repugna, sem atribuirmos a culpa aos nossos pais por isso, e tampouco à
sociedade. Sentimos que a corrupção nos é inerente; é nossa, é própria...
Pelo contrário, na experiência
da salvação em Cristo admitimos que a vida humana seja um presente de Deus; e
se não continuamos na vida santificada recém-gerada, talvez nem “por
agradecimento”; também não por um arrependimento da corrupção constante; mas
sim, certamente, como um novo viver muito mais natural que o mesmo viver
humano, e sendo simultâneo, se torna praticamente normal que pleiteemos ambas
vidas.
Por um lado, o nosso “eu”
ou personalidade da alma, suplantadora, invasora e pérfida lutará para não
morrer, reclamando cuidados para a nossa liberdade de consciência, para os
nossos sentimentos, ideias e decisões e também para o nosso corpo. Por outro, a
nova personalidade, aliás, a verdadeira, a restaurada, que radica em o nosso
espírito vive e desfruta a dimensão eterna e permanecerá incólume nos seus
direitos de viver eternamente por Cristo Jesus.
Neste tramo de nossa vida
humana e cristã, parece como que a antiga vida sem a experiência de Deus prevalece,
porque ela tem intensificado as reclamações por direitos, haja vista que a nova
vida vai menosprezando a antiga e se estendendo entusiasmadamente à nova e
eterna vida, afincada na velha. Esta tenta se rebelar muitas vezes, enquanto
que a nova natureza vai crescendo de dentro para fora.
Quando a consciência na
velha natureza descobre que a nova vida algum dia deixará de aproveitar do
corpo e a alma da velha natureza, que ela não radica em nós por se aproveitar
de algo que nos parece pertencer exclusivamente, “a minha vida”, e que esta
nova vida veio apenas para resgatar também a nossa alma caída, posto que o seu
resgate do espírito não contasse com a nossa decisão consciente, como o antigo
nascimento também, mas a própria nova vida torna mais consciente as nossas
funções de alma, e como último grito de sobrevivência, nos rebelamos reverentemente contra tudo, e inconscientemente contra o doador da
vida, Deus, e começamos a odiar a morte, que é o passaporte para a vida eterna
sem os sofrimentos desta, e sem consciência de perdas.
Talvez a maioria dos salvos
em Jesus Cristo supera essa crise, ainda que não seja senão nos seus últimos
momentos de vida humana. O mais doloroso mesmo acontece nas pessoas que ficam
na terra e continuam vivendo a vida humana, mesmo que também desfrutando da nova
vida que transportou a seu ser amado para a eternidade com Deus, lenta, ou
repentinamente.
Este estado emocional de
quem vai se despedindo de nós, ou até mesmo se nos vai sem despedir-se, mas que
temos a certeza de que alcançou a vida eterna em Jesus Cristo, e em nós que
ficamos é natural à experiência humana e também podemos evita-lo em grande
parte ou quanto menos, ameniza-lo.
O Cristianismo nos furtou a
capacidade da nova vida de desfrutarmos da vida eterna aqui e agora, e a nossa
velha vida coopera roubando-nos grande parte de nosso domínio sobre a corrupção
e o poder da velha natureza em nós, incluído a morte física.
A Igreja também vive em permanente
batalha com o Cristianismo, porque este defende a velha vida, e a cuida,
enquanto que a Igreja vive para a nova vida e esta nos faz igreja que vive,
prospera na vida eterna e vai crescendo em glória.
Diante de ambas as
batalhas, a do “eu” contra a vida divina em nós e a do Cristianismo contra a
Igreja, mãe e incubadora da nova vida, não estamos sós nem desarmados.
Para com os que vivemos e
ainda nos defendemos por seguir vivendo esta vida humana (descontando que a
vida divina que temos não a perderá jamais), deverá haver urgentemente uma
mudança de paradigmas e começarmos a encarar a incorporação da vida eterna em
toda a nossa vida diariamente, e investirmos no desfrute dela agora, de tal
maneira que quando nos toque partir estejamos em paz conosco e com Deus, e se
parte um dos nossos seres queridos, seja lentamente ou de repente, não soframos
inutilmente.
Para com aquele que está se
despedindo aos poucos, os cristãos mais robustos em vida humana deverão
investir em qualidade vida, levando-o a ver a grandeza da vida eterna em sua
vida temporal, e a tremenda importância por comparti-la até então com os seus
amados e estes com ele, a fim de fazer sua partida bem menos dolorosa e muito
mais significativa do amor de Deus para com os que ficamos.
Fazendo de maneira certa um
investimento em nós mesmos, desfrutando e cultivando a vida eterna aqui e
agora, e ensinando a desfrutá-la, aquele que parte sem nos dar tempo de fazer
nada para evita-lo, não se sentirá vítima nem culpará a ninguém pela extinção
de seu viver temporal, e se por caso, a sua partida fosse fortuita, tenhamos a
certeza de que mudar de um corpo para outro, do temporal para o eterno não lhe
significou morte, e nós estaremos em paz...
Na dimensão eterna e mais gloriosa
da vida humana, a dimensão do novo nascimento, a vida consagrada e em
santificação, e o viver em qualidade e dignidade de vida diante a morte,
transferimos conscientemente a Cristo a nossa derrota do pecado e trazemos para
nós a Sua vitória sobre o pecado e a morte com alegria e paz, deixando na
Humanidade testemunhos poderosíssimos de nossa fé que vence o mundo!
Quando compreendamos estas
verdades, pela fé, não mais nos perguntaremos POR QUE ME TOCA A MIM? Mas sim nos
sentiremos eleitos para tomar o nosso lugar na Linha da Frente da batalha da
fé, ficando na história da Humanidade como os Heróis da Fé da Nova Aliança,
agrando a Deus, derrotando vergonhosamente a Satanás e liberando a salvação
para muito mais pessoas presos pelo medo da morte que nós vencemos por Jesus
Cristo.
Tito Berry –Tanatólogo-